quarta-feira, 17 de setembro de 2014

PRESIDENTE DA FUNAI VISITA TERRA INDÍGENA JARAGUÁ



No dia 11 de setembro de 2014, na Terra Indígena Jaraguá, a comunidade indígena Guarani Mbya recebeu a Presidente da FUNAI, Maria Augusta Bolitreau Assirati, e o assessor da Diretoria de Proteção Territorial (DPT) da FUNAI, Manoel Prado Junior, para discutir questões fundiárias relativas àquela TI. A reunião realizada na Aldeia Tekoa Pyau, nas imediações do Centro de Educação e Cultura Indígena Jaraguá, teve como objetivo a comunicação do andamento do processo de regularização da terra e atuação do órgão indigenista em ações de reintegração de posse movidas contra aquela comunidade indígena.
Por ser a primeira visita da Presidente da FUNAI na TI Jaraguá, a conversa foi seguida de uma caminhada pelas aldeias Tekoa Pyau e Tekoa Ytu para que os indígenas expusessem as principais demandas da comunidade para além da regularização fundiária. Foi citada principalmente a pauta da falta de atenção à saúde indígena. Participaram deste encontro o Coordenador Regional da CR Litoral Sudeste, Cristiano Hutter, demais servidores da CR e CTL São Paulo, e representantes do CTI – Centro de Trabalho Indigenista de São Paulo.



No dia 30 de abril de 2013, foi publicado no Diário Oficial da União o resumo do Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação da Terra Indígena Jaraguá, que afirma o direito do povo indígena Guarani ao seu território tradicional. Os estudos reconhecem como terra indígena 532 hectares, localizados nos municípios de São Paulo e Osasco (SP).

A Terra Indígena Jaraguá é habitada por indígenas da etnia Guarani, historicamente formada tanto por grupos falantes do dialeto Mbya como do dialeto Nhandewa, e localiza-se na bacia do rio Tietê, no Planalto Atlântico. A vegetação original da região é de Mata Atlântica.

Antes da construção da Rodovia dos Bandeirantes e do Rodoanel Mario Covas, a região formava um contínuo de floresta com a região da Serra da Cantareira e do Parque Anhanguera, entrecortada de pequenos estabelecimentos rurais. Atualmente, a região foi urbanizada, de modo que os únicos remanescentes de vegetação nativa encontram-se dentro da terra indígena ora delimitada.


HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO GUARANI

A documentação histórica indica que a TI Jaraguá é formada por terras vinculadas ao antigo aldeamento de Barueri (século XVII). A análise da documentação do antigo Serviço de Proteção dos Índios (SPI) demonstra que o próprio órgão indigenista desempenhou papel decisivo no esbulho praticado contra os Guarani na primeira metade do século XX, quando buscavam permanecer nas aldeias próximas ao litoral, negando-se a se deslocar de maneira forçada à Povoação do Araribá, no interior do Estado, tal como pretendia o governo de então.

A mesma documentação exprime o fracasso desse intento por conta da persistência dos Guarani em manterem suas aldeias no litoral, inclusive na TI Jaraguá. No início da década de 1950, estabeleceu-se no Jaraguá, constituindo aldeia guarani, o líder André Samuel dos Santos, que fugira do Posto Indígena de Itanhaém, onde o SPI o havia colocado em cadeia para corrigir seus "maus costumes", que nada mais eram que as práticas tradicionais do povo. Ele ficou com sua família, da qual restam ainda na TI alguns descendentes, na região que ainda preservava características exclusivamente rurais e conservava muito da sua vegetação original, o que permitiu aos Guarani manterem suas práticas tradicionais.

No início da década de 1960, estabeleceu-se na região também o grupo familiar de Joaquim Augusto Martim, falecido esposo da cacique Jandira, que chefiou a atual aldeia Tekoa Ytu nos últimos anos. Esses dois grupos estabeleciam uma ocupação tradicional em toda a área ora delimitada, onde era possível caçar, pescar e obter matéria-prima para construção de casas (sapés, taquaras, madeiras), remédios do mato (raízes, folhas e cascas de árvore) e artesanato.

Esses dois grupos mantiveram estreitas relações de troca e comensalidade, até que a família de André Samuel dos Santos deslocou-se para a aldeia do Bananal. O grupo de Joaquim permaneceu no local onde hoje é a aldeia Tekoa Ytu, onde também habitava a família de André Samuel, até que a construção da Rodovia dos Bandeirantes, ao final da década de 1970, resultou na fragmentação de seu território, destruindo parte das áreas que ele utilizava.

Na década de 1990, seguindo a dinâmica de secessão tradicional dos Guarani, parte do grupo que habitava a Tekoa Ytu estabeleceu outra chefia, liderada pelo rezador José Fernandes Soares, no local onde hoje é a aldeia Tekoa Pyau e que até então era utilizado pelos Guarani como área de plantio, uma conversão de uso inteiramente de acordo com a dinâmica tradicional de secessão dos Guarani.

Posteriormente, em 2005, seguindo a mesma dinâmica, outra parte do grupo estabeleceu nova chefia liderada por Seu Ari, filho do antigo cacique Joaquim, no local conhecido hoje como aldeia Sol Nascente, voltando a fixar moradia na área historicamente utilizada por sua família. Esse último grupo, entretanto, foi retirado do local por força de uma decisão liminar, no âmbito de ação de reintegração de posse, em 2005.

Ao longo das décadas, os não-índios vêm cerceando o acesso dos Guarani aos recursos naturais necessários à sua sobrevivência, os quais se concentram especialmente na microbacia do Córrego Santa Fé. Esse cenário trouxe sérios prejuízos para o grupo, que vive hoje concentrado em áreas diminutas, onde a densidade populacional é muito superior àquela que é característica do padrão tradicional do povo.

Fonte: FUNAI publica estudos de identificação da Terra Indígena Jaraguá (SP). <http://www.funai.gov.br/index.php/comunicacao/noticias/548-funai-publica-estudos-de-identificacao-da-terra-indigena-jaragua-sp>


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